Entrevista Monsenhor Alberico

Em visita à nossa paróquia, Monsenhor José Albérico concedeu entrevista à Pastoral da Comunicação e comentou sobre os motivos que o levaram a solicitar o ano sabático e o seu futuro na arquidiocese, além de deixar uma mensagem aos paroquianos.

Entrevista com Monsenhor Albérico

Em visita à nossa paróquia, Monsenhor José Albérico concedeu entrevista à Pastoral da Comunicação e comentou sobre os motivos que o levaram a solicitar o ano sabático e o seu futuro na arquidiocese, além de deixar uma mensagem aos paroquianos.

Monsenhor Albérico com o Papa Francisco

PASCOM - Monsenhor, na metade do ano passado o senhor solicitou um ano sabático ao bispo, se afastando das atividades tanto da paróquia quanto da Arquidiocese. O senhor poderia primeiramente nos explicar o que é um ano sabático?

Monsenhor Albérico - O ano sabático é algo de costume, não só na Igreja como em outras instituições. Uma pessoa, um trabalhador, pode, depois de algum tempo de serviço prestado, pedir um tempo para descanso e para se atualizar. No meu caso, eu tinha sonhado muito que quando fizesse 25 anos de padre iria pedir ao bispo para ficar um ano fora, fazendo retiro, uma nova experiência pastoral, estudando... Infelizmente não deu nos 25 anos, pois foi quando se deu a saída do outro arcebispo e a chegada de Dom Fernando que me convidou para ser vigário geral. Quando eu completei os 30 anos de padre, solicitei ao arcebispo que me desse essa oportunidade.

PASCOM - Que motivos o levaram a solicitar o ano sabático?

Monsenhor Albérico - Para me afastar um pouco das atividades que estava exercendo. Para descansar, fazer uma nova experiência pastoral, um retiro mais prolongado e estudar. Não do ministério sacerdotal, continuo celebrando todos os dias onde estou, mas das minhas atividades como vigário paroquial, no caso da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, como vigário geral da Arquidiocese, como cura da Catedral, Sé de Olinda.

PASCOM - Conte-nos sobre este período, a quais atividades o senhor se dedicou?

Monsenhor Albérico - Então o que foi que eu fiz? Organizei o meu ano. Inicialmente eu queria fazer uma terapia que está acontecendo lá em Belo Horizonte - MG, chamada ADI (Abordagem Direta do Inconsciente), mas infelizmente não foi possível naquele momento porque precisava ter marcado com muita antecedência. Então fui primeiro à Roma, pois queria muito ter a alegria de encontrar de perto com o Papa Francisco, de beijar sua mão e pedir a sua bênção tanto para o ano sabático, quanto pelos meus trinta anos de sacerdócio. Então tive a alegria de me encontrar com ele e receber sua bênção.

Depois voltei e fiz 15 dias da terapia que citei. Foi uma experiência impressionante, é um método moderno de abordagem do subconsciente que não é regressão, porque na regressão a pessoa é hipnotizada e neste não se perde a consciência. Às vezes, a gente tem alguns nós que não foram desatados, até de antes do nosso nascimento, durante a gestação, na infância, e às vezes carregamos essas coisas durante toda a nossa vida, muitas vezes atrapalhando a vida pessoal e, no meu caso, meu serviço como padre. Foi uma experiência muito importante.

Monsenhor Albérico em Madri

Outra coisa é que há 15 anos eu tinha feito um mestrado na Espanha. Morei 3 anos na Europa, fiz um mestrado em Teologia Pastoral, tendo uma experiência muito interessante de morar em uma paróquia em Madri. Eu era vigário paroquial lá e estudava numa faculdade de Teologia, em Madri, que pertence à Universidade Pontifícia de Salamanca que é uma das universidades mais antigas do mundo. Fiz o mestrado, mas não escrevi a tesina, que é uma pequena tese equivalente a uma monografia, achando que voltando para cá eu iria escrever, mas me envolvi demais com o trabalho e acabei não escrevendo. Fiz as disciplinas, mas não recebi o título, era uma outra coisa que estava aberta na minha cabeça durante 15 anos. Então fui à Madrid depois dessa terapia para ver a possibilidade, uma vez que os professores já tinham mudado, uns tinham morrido, outros se aposentado... Fui à faculdade que eu tinha estudado para ver a possibilidade de um professor me acompanhar à distância e eu ficar escrevendo aqui e ficar mandando para lá. Eles aceitaram, mas eu teria que fazer algumas disciplinas para revalidar o curso que eu tinha feito. Em outubro fui revalidar o curso e terminei agora em dezembro.

Celebrando a Santa Missa em Madri

PASCOM - E neste momento, o que o senhor está fazendo?

Monsenhor Albérico - Neste momento, estou somente escrevendo, fazendo meu trabalho para receber o título de mestre em teologia pastoral, um trabalho sobre Dom Hélder Câmara, que foi com quem eu trabalhei, quem me ordenou diácono e a quem admiro muito. Na minha opinião, é um dos grandes Padres da Igreja da América Latina. Dom Hélder tem muitas obras que estão sendo publicadas agora. Durante o Concílio Ecumênico Vaticano II, ocorrido entre os anos 62 e 65, na madrugada de cada dia, na hora da vigília, ele escrevia uma pequena carta contando tudo que estava acontecendo em Roma e mandava para um grupo que ele tinha trabalhado no Rio de Janeiro e para outro em Recife, pois estava começando o seu Episcopado aqui em 64. Estou coletando estas cartas, que são mais de 250, e também as cartas interconciliares (o concílio aconteceu de 62 a 65 mas não foi contínuo, os bispos passavam uns meses lá em Roma e voltavam para suas bases). Dom Hélder chegou em Recife justamente em pleno concílio, em 64, e coloca em prática aquilo que ele estava vendo e escrevendo nas cartas e trabalhando no concílio. Dom Hélder sonhava com uma igreja pobre e servidora e nisto parecia muito com o Papa Francisco. É esse aspecto que estou analisando: o sonho. O título do meu trabalho é este “Dom Hélder: do sonho à realidade”. Sonho que ele teve como bispo no concílio, de uma igreja pobre e servidora, e que ele começou a implantar aqui na Arquidiocese de Olinda e Recife, desde 64, quando ele tomou posse. Então é sobre isso que eu estou escrevendo, eu poderia agora estar aqui (em Recife), escrevendo aqui, mas o professor que está me acompanhando sugeriu que eu ficasse na Espanha, pois se eu voltasse poderia começar a me envolver com algum trabalho por aqui e não concluir a minha tesina. Eu topei e estou morando lá na mesma paróquia em que morei há 15 anos, sem uma função paroquial. Eu celebro, geralmente ajudando, porque a Europa tem muitos padres. Enquanto Recife tem 200 sacerdotes, Madrid tem 2500, mas mesmo assim eles acham pouco. Espero em Deus finalizar tudo até junho e voltar com o meu título de mestre em teologia pastoral.

PASCOM - Conte-nos mais sobre a visita ao Vaticano, como foi o contato com o Papa Francisco, que sabemos que o senhor tanto admira?

Monsenhor Albérico - Já havia ido a trabalho para Roma quando era secretário da Conferência Regional dos Bispos e acompanhei estes na visita ao Papa. Desta vez fui para melhor conhecer Roma, fiquei hospedado durante 17 dias numa casa que se chama Domus Sacerdotalis, uma casa só para padres, bem próxima e pertencente ao Vaticano, mas não fica dentro da cidade do Vaticano. Eu fiz quase que um retiro: passava a manhã toda dentro do Vaticano, concelebrava com os padres do mundo inteiro que estavam passando por Roma, contemplava a basílica de São Pedro, observava os detalhes, conheci os jardins do Vaticano, os museus... E a tarde conhecia Roma, que é uma “lindeza”. Foi mais para rezar, descansar, conhecer...

É difícil uma audiência com o Papa, chegar perto dele, porque o mundo inteiro quer o mesmo. Mesmo que a gente seja padre, seja bispo, não é fácil, mas eu tive a sorte de me encontrar lá com o cardeal Lorenzo Baldisseri que foi núncio apostólico aqui no Brasil e me conhece do tempo em que trabalhei na CNBB. Quando me viu fez aquela festa, então eu fiz um pedido a ele: “quero que o senhor me dê um presente de 30 anos de padre”. O meu sonho era chegar perto do Papa Francisco e beijar a mão dele. E ele conseguiu, fiquei na primeira “fila do beija mão”, era o oitavo. Eu consegui dar uma palavrinha com ele, primeiramente disse que era daqui de Recife, da Arquidiocese de Olinda e Recife. “Estamos esperando o senhor em 2017, o senhor já recebeu o convite”, eu falei, segurando-o com minhas duas mãos. Ele riu e disse: “vamos ver”. Não garantiu nada. Depois eu disse que estava completando 30 anos de padre e queria que ele me abençoasse. Ele me deu uma benção, eu fiquei muito emocionado e beijei a mão dele. Foi essa a experiência.

PASCOM - Em relação à arquidiocese, já tem alguma atividade definida? Existe a possibilidade de retorno à Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem?

PASCOM - Em relação à arquidiocese, já tem alguma atividade definida? Existe a possibilidade de retorno à Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem?

Monsenhor Albérico - A arquidiocese mudou um pouco de configuração porque agora tem um bispo auxiliar. Dom Fernando tinha dois vigários gerais, Monsenhor Lino e eu, mas antes de minha saída tinha chegado outro, que é o bispo emérito de Palmares, Dom Genival, que está aposentado, mas está muito bem de saúde, aos 75 anos. Dom Fernando havia convidado ele para ser vigário geral também, pois não chegava bispo auxiliar. Porém o novo bispo auxiliar foi nomeado agora e, como o bispo auxiliar também é vigário geral, oficialmente nós somos quatro. Me parece demais e talvez possa até vir outro bispo auxiliar. O que eu disse ao arcebispo Dom Fernando foi o seguinte: dia 8 de agosto, quando eu completo o meu ano sabático e volto à Arquidiocese, me apresento a ele e estarei à disposição dele para o que quiser. Eu disse a ele que achava que não precisava mais ser vigário geral, que já tem demais. Também não sei se ele vai querer que eu continue aqui, ajudando Monsenhor Edvaldo. Vou estar disponível, acreditando que o que ele quiser vai ser a vontade de Deus. Não sei se vou ensinar também, porque eu gosto de ensinar, e como mestre agora... A Universidade Católica já havia me convidado para lecionar, então pode ser uma possibilidade.

PASCOM - Como padre, o que o senhor mais sentiu falta nesse período? E o que pode fazer que antes, por causa do corre-corre, não dava?

Monsenhor Albérico - Eu acho que uma coisa que ficou muito clara nos últimos seis meses - estou na metade do ano sabático - foi que eu percebi muito que o sacerdócio é a minha vocação. Eu nunca tive nenhuma dúvida, mas agora tenho mais clareza ainda. Deus me chamou para ser padre, se mil vezes eu nascesse, mil vezes eu seria padre, isso que está muito claro na minha cabeça e no meu coração. Agora uma coisa que eu tenho feito mais, que antes no corre-corre não dava, é rezar e ler. Tenho rezado muito mais e estou lendo muito mais.

PASCOM - O senhor gostaria de deixar uma mensagem à comunidade da paróquia que tanto carinho criou pelo senhor nesses anos de convivência?

Monsenhor Albérico - Eu acho que a grande mensagem é dizer que, mesmo distante, mesmo tendo esses oito mil quilômetros de distância e o atlântico que nos separa, hoje, eu me sinto muito unido a essa comunidade. Quando eu chego aqui, como domingo que celebrei as duas missas e hoje (a entrevista foi realizada na terça-feira, 03 de março de 2015), eu sinto o carinho das pessoas e isso me conforta, em saber que sou querido, em saber que as pessoas estão sentindo falta, isso deixa a gente muito mais responsável. O que estou fazendo lá é para que eu possa servir mais e servir melhor. Na paróquia onde eu estou também tem muita gente amiga que me quer muito bem, eu tenho certeza disso, o pároco é muito meu amigo, mas eu me sinto muito ligado a aqui, tudo que eu vou fazer lá eu digo: “lá na paróquia de Boa Viagem é assim”. Eu sinto muito a presença dessa comunidade lá, nunca me senti muito distante, pelo menos de coração, se a distância física é grande, a do coração é insignificante.